Carlos Vazconcelos
Tudo no mundo
se guarda
Para quando?
Não sei...
Para amanhã,
talvez.
Todos se recolhem
os corpos em pane
os pensamentos impunes
os automóveis cansados.
As vidas se recolhem
Tudo vazio no vácuo
Tudo oco, fosco,
lusco
fusco
Nenhum som de saxofone
nem de telefone
Esta é uma noite comum
perdida na lassidão do tempo...
Este é o tempo,
o nosso tempo
(tempo de homens partidos?
não sei...)
Esta é uma noite de quarta-feira
Lá fora, só resta o vento,
inquieto,
não é capaz de distinguir as noites,
que toda noite é parda.
As luzes que restam acesas
em alguns apartamentos,
estão acesas porque restam...
Não se amam os casais
Obviamente porque esta é uma noite
de quarta-feira
Noite só, tão somente noite,
feita para separar os dias.
Noite sisuda
carrancuda
Resta no céu
a poeira cósmica:
Um por cento do universo
que nos é permitido ver.
Todos se recolhem
tudo no mundo se guarda
para amanhã,
talvez...