Esta semana, li na revista Época que o uso excessivo de aspirina causa cegueira (informação dada a partir de estudos recentes). Lembrei-me logo do poeta João Cabral de Mello Neto, que ingeriu esse tipo de comprimido por quase 50 anos. Consumiu cerca de 70 mil aspirinas (de acordo com José Castello). Era tão dependente que escreveu o poema "Num monumento à aspirina", publicado no livro A educação pela pedra. Acho que foi o único poeta no mundo que dedicou versos a um remédio. Compara-o a um "sol artificial" que "a toda hora em que se necessita dele/levanta e vem (sempre num claro dia)/acende, para secar a aniagem da alma/quará-la, em linhos de um meio-dia."
Explica-se esse "amor". O poeta padecia de dor de cabeça crônica desde os 16 anos, cuja causa nunca fora diagnosticada. Curou-se somente em 1986, após cirurgia no estômago. Certa vez, em entrevista à Folha de São Paulo, reiterou: "Eu a comparo a um sol. Depois eu soube que a aspirina é euforizante. Tenho a impressão de que essa minha depressão de hoje é falta de aspirina. Resolvi tomar uma por dia - tomava seis -, mas, como não tenho mais dor de cabeça, eu esqueço." Perguntado em seguida se rejeitava drogas no momento da criação, respondeu: "Ah, sim. Quero escrever sempre em plena consciência." João Cabral morreu em 1999, com avançada cegueira e muita melancolia.
2 comentários:
Gostei do post, Carlos! E do blog também!
Um abraço!
C.
Obrigado pela visita, amiga. Volte sempre. bjs
Postar um comentário