Fortaleza,
Carnaval de 2013
Carlos Nóbrega, nobre
Xará,
Seu novo livro, Lápis branco, já me conquistou lugar na
estante. Lá não estará sozinho, mas em família. Tem por companhia toda a
irmandade: A sono solto, Outros poemas, Breviário, Árvore de manivelas,
O quanto sou e 8Verbetes. Nessa prateleira só mora gente de ótima estirpe: Carlos
Drummond (o outro xará), Manuel Bandeira e Manoel de Barros, João Cabral, Mário
Quintana e Augusto dos Anjos. Não precisa se encabular, que ali também residem dois
conterrâneos: Francisco Carvalho (com seus títulos e “tons e dons geniais”) e O
Poeta de Meia-Tigela (com seu concerto desconcertante de tão bom). Nesse
momento, assim se resume minha prateleira principal de poetas do Brasil.
Com Lápis branco você reafirma esse lirismo
carregadinho de reflexões próprio de sua estética e do seu estar no mundo. Como
Manoel de Barros, você sabe arqueologicamente escovar as palavras para
descobrir que ecos ainda guardam. Feito isso, reveste-as de brilho novo e,
mesmo sem se esforçar para expô-las na vitrine, elas reluzem e aliciam o
leitor, apenas aqueles que “sofrem” de fotossíntese. Explico: Aprendi
erradamente na escola que a fotossíntese é um fenômeno exclusivamente vegetal.
Mas hoje compreendo: minha professora de Ciências não tinha o hábito de ler
poesia. Eu a perdoo. É feito padre: ensina a casar, mas não casa nunca. Sofrer
de fotossíntese é ter a lua por companheira de viagem; é entrar naquela casinha
sem número (a avozinha da rua) que distribui humanidade, e tomar um café com
pão; é ajeitar a alma dentro da blusa e sair à cata de versos no bulício da
cidade grande; é entender o estranho e delicioso esperanto das mulheres; é
saber esperar na fila da padaria e da vida e nesse intervalo ser distraído pela
poesia; é achar fatigante a ideia de desaparecer (inevitavelmente) um dia para
sempre; é ser encontrado morto dentro dos olhos vivos da amada; é andar sozinho
em procissão contando os passos entre um poste e outro (feito aquele personagem
de Orígenes Lessa), é não ligar se pousem moscas ou olhares sobre a felicidade
de fiar poemas. Enfim, é escrever com lápis branco sobre papel branco para que
só captem a mensagem aqueles indivíduos “clorofilados”, os que sofrem de
fotossíntese poética.
Afinal, não foi Mário
Quintana que disse que “cada poema é uma garrafa de náufrago... quem a
encontrar, salva-se a si mesmo?”
Sei que você não
acredita que a poesia possa salvar alguém, mas que ajuda a não doer, ah, disso
nós temos certeza.
Abraço do Carlos
Vazconcelos.
3 comentários:
Adorei! O texto faz jus à bela poesia do(s) Carlo(s).
Amiga Tércia, obrigado pela visita. Será sempre bem-vinda.
Caro poeta...
Perdõe-me a ignorância de somente agora tê-lo conhecido: precisamente através de uma entrevista sua, concedida à Lílian Martins na rádio Assembleia. a partir de então, passei a desfolhar caminhos em busca de sua obra. E tenho me embuído nesta "fotossíntese poética" sem volta!
Parabéns!
Grande abraço
Fátima Mnedes
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